segunda-feira, outubro 05, 2009

Homenaje a Mercedes Sosa

Mercedes Sosa

San Miguel de Tucumán, 9 de julho de 1935
Buenos Aires, 4 de outubro de 2009

Se ha ido de la presencia de nosotros una de las voces imponentes y amante de la vida, sobretodo en América Latina.

Gracia y ternura, vivacidad y clamor de justicia se mezclaban a su voz y componían el pentragrama sobre el cual componía y cantaba su música.

Le seguiremos cantando.

Le seguiremos añorando.

Le seguiremos en la memoria del corazón.

domingo, setembro 13, 2009

Para cuando te canses de mi cuerpo

Para cuando te canses de mi cuerpo

Recuerda otros tiempos
en los que mis besos
te hacían suspirar

Recuerda aquellas noches
en las que mis palabras
te calmaban el alma

Recuerda nuestras sábanas
en las que mis sueños
deshacían tus pesadillas

Recuerda el pasillo de mi casa
por donde tus desilusiones
encontraban un hogar

Recuerda mi sonrisa
que tan dulcemente
transmutaba tus lamentaciones

Recuerda mis brazos
que aunque débiles
están abiertos hacia ti

Recuerda el yo que soy

¡Recuerda...y vuelve!

quinta-feira, agosto 06, 2009

Exposição: “Olhar sem preconceito... retina”

Apresentação: a visão da artista Linah Biasi

“A arte contemporânea e a pintura mantêm entre si uma relação tensa, e não por acaso nos últimos tempos tem-se decretado a morte da pintura de maneira realmente cansativa. As críticas a ela partem de pontos de vista diversos e não seria possível retomá-las todas aqui. No entanto, um dos ARGUMENTOS mais eficazes, ao menos retoricamente, afirma que haveria na produção contemporânea uma tendência a romper as limites que a separariam da vida, dos demais objetos e situações, enquanto a pintura se manteria dentro dos limites da arte tradicional, ligados à superfície, a suportes diferenciados, ao artesanal e à relação contemplativa com o observador.

Essa discussão contém verdades e incompreensões e traz para o debate estímulos e preconceitos.

Preconceito! Mata mais que muitas armas e fere o que temos de mais profundo: nosso sentimento!

O que pretendo alcançar mostrando retratos de pessoas comuns?

Levar o espectador a pensar e rever seus conceitos, sua forma de sentir e olhar as pessoas. O que um olhar e um gesto podem transmitir...

Minha pretensão não chega a ponto de querer reinventar a vida, que é uma das funções da pintura, pois ela já está nas pessoas que retratei e nas que estão apreciando, mas sim tocar a emoção do espectador... Não quero que vejam o grau de dificuldade da técnica. As telas não devem ser decifradas, tem que ser sentidas. Elas não devem falar à nossa inteligência verbal lógica, e sim, mais uma vez, às nossas emoções.

Não estou preocupada se minha arte evoluiu... Não aceito o fato de um cara colocar cocô não sei onde e mandar para uma galeria... A arte contemporânea, na maioria dos casos, não é arte, é expressão.

Que minhas telas, juntamente com a poesia retirada de letras de músicas de consagrados artistas, levem o espectador a mudar sua forma de VER E ENCHERGAR.

Afinal, o que é feio ou bonito? ... Está nos olhos de que vê!”

Linah Biasi - Primavera paraisense de 2007

Na frase de Mário Quintana: o convite ao espectador

“Quem não compreende um olhar,

tampouco compreenderá

uma longa explicação.”

Mário Quintana

Óleo sobre tela - tela de 60x90

Série: “Olhar sem do preconceito... retina” - Hiper-realismo

Na sua série “Olhar sem do preconceito... retina”, a artista Linah Biasi oferece um caminho como proposta de entender com o olhar. Para a artista está clara a grandiloqüência que o olhar possui. No olhar se concentra uma vastidão de sentido que somente o próprio olhar pode ser capaz de compreender. Entender com o olhar significa olhar para além do trivial que pode ser visto a cada piscada e deixar-se ser visto.

As telas da série apresentam um cuidado com a horizontalidade do olhar dos modelos: de qualquer distância, em frente às telas, ou olhando-as pelos lados, os seus personagens nos acompanham em um giro quase de 180º. Olhamos ao mesmo tempo em que somos também olhados. É neste movimento que o nosso olhar pode alcançar a extensão da compreensão. Os olhares dos modelos simulam um movimento que nos contam uma história de começo, meio e fim. Deparar-se com uma das telas desta série é o começo da conversa, sem palavras, apenas de troca de olhares. Daí podemos passar a um bate-papo mais entretido que nos desafia a não piscar. O olhar dos modelos nos fala grande e mansamente, que não nos atrevemos a desviar nosso foco numa piscada que seja. Cada olhar traz em si sua expressão peculiar e carrega um traço de criação, impresso pela artista Linah Biasi. Nesta troca longa e intensa de olhares, nossa conversa encaminha-se para um desfecho: ao olhar a obra ela se imprime em nossa retina, e isto é o que podemos levar da obra conosco, o olhar.

Assim podemos nos aproximar do convite que a artista Linah Biasi quis fazer-nos ao citar Quintana: o “Olhar sem do preconceito” pede ao expectador deixar-se ser visto e deixar-se ser retido na “retina” da obra. Ao tempo que uma imagem da tela se forma na retina de nossos olhos, a troca de olhares com ela nos faz pensar se o mesmo não poderia acontecer com a retina dos modelos que ali são vistos e que nos vêem. Se não compreendermos estes olhares, as tantas emoções não-faladas que cada um deles pode nos trazer, vão nos faltar palavras para uma explicação à beira do impossível, pois estaríamos tentando explicar o que não somos capazes de ver.

Na frase de Gabriel García Márquez: o percurso da série

“É necessário abrir os olhos e perceber

que as coisas boas estão dentro de nós,

onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.

O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração,

pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.”

Gabriel García Márquez

As telas da série “Olhar sem preconceito... retina”, da artista Linah Biasi, têm como modelos pessoas comuns em situações diversificadas ou simplesmente retratam com uma exclusividade quase que total cada um dos modelos. Isto faz com que cada uma das telas, mesmo tendo sido concebidas num conjunto, como um todo, apresentem uma singularidade própria a cada uma. A percepção desta singularidade depende do tempo do olhar.

Cada uma das telas nos faz um convite diferenciado e único: olhá-las debruçadamente sem medo de aproximação. Neste olhar de pertinho, com intimidade e sem pressa, é que podemos captar a vitalidade de cada quadro e descobrir que o que realmente importa na vida é tão simples e tão pouco. Mesmo que a força despendida na conquista destes tesouros seja uma força descomunal, este desgaste é necessário, pois ele é capaz de nos ensinar que o que procuramos nem sempre está tão longe de nós mesmos, tão fora do alcance de nossas vistas. É neste movimento de olhar com intimidade e desapressadamente que os olhares desta série nos ensinam a olhar para nós mesmos, onde nosso maior tesouro pode ser encontrado.

Quando procuramos encontrar a singularidade de cada um dos modelos, retratados nesta série, vamos descobrindo que cada um marca o seu tempo de maneira própria e que a distribuição do motivo realizada pela artista, nas dimensões do quadro, foi capaz de resgatar esta trajetória peculiar de cada um. É o que diz García Márquez, “aproveitar o momento e aprender sua duração”. Há um percurso de vida presente em cada uma das telas e que só pode ser percebido nos olhos de quem vê.

Na grandeza das dimensões dos rostos: a sensação escancarada

“A técnica retórica tradicional de hiper-realismo

é capaz de sensibilizar outros sentidos através da faculdade da visão;

as imagens de outra pessoa em grande proximidade

produzem um efeito tão forte que a impressão visual

estimula a sugestão de tatilidade.”

Oliver Grau

- Arte virtual: da ilusão à imersão

Unesp/Senac, 2007, p. 312.

Óleo sobre tela - tela de 60x90

Série: “Olhar sem do preconceito... retina” - Hiper-realismo

As dimensões trabalhadas pela artista Linah Biasi com cada modelo nesta séria inspiram, inevitavelmente, uma proximidade entre obra e observador. Esta proximidade, nas palavras de Oliver Grau, se concretiza num deslocamento sensacional do tato para a visão: podemos pegar, tocar, apalpar a obra com os nossos olhos.

Esta proximidade escancara para o observador uma possibilidade inusitada e muito além da realidade de seu cotidiano: ele tem a chance de transitar entre uma tela e outra por espaços reduzidos pelo agigantamento das proporções e assim o observador pode perceber com as mãos de seus olhos os contrastes entre textura, volume e emoções que cada tela carrega consigo.

Se é verdade o que popularmente se diz, ser comum aos mineiros, ou a todos nós, ver com as mãos, esta exposição está feita sob medida: nosso desejo de tocar foi satisfeito por este agrandamento das proporções dos motivos nas telas, capaz de diminuir a distância ente a obra e o nosso tato-visual.

Esta proximidade com as telas pode mergulhar o olhar do observador num intenso mar de sensações se ele, por sua vez, deixar-se tocar, deixar agigantar as suas proporções sem qualquer preconceito. Este é o prêmio e a prova desta série da artista Linah Biasi: podemos fazer uma experiência de profundo encontro com emoções várias, escancaradas em cada tela, mas o preço a ser pago é a despir-se dos preconceitos enraizados em nosso olhar. Somente desta forma é que poderemos ser capazes de perceber e sentir as emoções que as telas despertam e inspiram em nós sem, em momento algum, preconcebê-las.

Na temática da série: a dinâmica do olhar através do olhar

Um pequeno passeio diante das telas da série “Olhar sem preconceito... retina”, da artista Linah Biasi, pode ser capaz de fazer-nos adquirir uma dinâmica inesperada ao apreciar a obra de arte: como estamos também diante de olhares que nos olham, nosso olhar nos leva a espelhar-nos no olhar da obra. Trata-se de um embate de retina contra retina, como se nos encontrássemos diante do espelho, olhando a nós mesmos.

Este efeito, num primeiro momento, pode ser percebido pela horizontalidade na qual os olhos dos modelos foram pintados. Temos a sensação de estarmos sendo vistos. Mas, num segundo momento, quando nos despojamos de preconceitos com relação ao que nossos olhos encontram diante de si, estamos livres para olhar através do olhar da obra e tentar ver o mundo como ela vê, a partir de outro ponto de vista.

Assumir a perspectiva do olhar de cada obra desta série pede de nós um despojamento do nosso status de observadores e a coragem de mergulhar no olhar que olhamos. Sim, mergulhar no olhar que olhamos! Como fazemos diante do espelho, também podemos nos perguntar diante de cada tela: este sorriso não poderia também ser meu sorriso? Esta tranqüilidade não poderia ser a minha? Esta simplicidade, esta pureza, este encanto não seriam também meus? E, por fim, a pergunta da descoberta maior: este olhar, não seria o meu olhar?

Adriano Lima - Primavera paraisense de 2007

O hiper-realismo de Linah Biasi na série "Um olhar além do ovo"


“Um olhar além do ovo”


“Não é o tema que torna bom um quadro,
mas sim a qualidade da pintura.
Procurei dar o melhor de mim, desenvolvendo telas
com fortes contrastes entre linhas e cores.
O equilíbrio entre volumes (pintura escultórica)
e a ênfase dada às cores (valores cromáticos)
foi atingido graças à minha longa trajetória de dedicação à pintura.”

Linah Biasi

Óleo sobre tela - tela de 60x90
Série: Um olhar além do ovo - Hiper-realismo


O trabalho com o hiper-realismo exige da artista uma pré-disposição extremamente aguçada e versátil de seus sentidos.

Os sentidos devem estar aguçados por dois motivos. Primeiro, porque o trabalho exige uma atenção especial aos menores detalhes da temática desenvolvida na tela. Segundo, a temática, em si, não é um conjunto de um grande cenário, no qual inúmeros motivos se entrelaçam ao redor de um tema em específico. A temática é um pequeno detalhe percebido no grande cenário do dia-a-dia que, muitas vezes, passam desapercebidos aos nossos olhos.

Este trabalho exige, ainda, versatilidade dos sentidos, pois cada temática tratada na tela está intrincada num entorno de grandes e pequenos motivos que estimulam a percepção do observador. A artista passa do trabalho minucioso com um fino pincel, num quadrante reduzido, ao trabalho numa área maior com pincéis e técnicas diferentes.

É neste sentido que a exigência à perspicácia da artista se manifesta. O resultado deste traba-lho denota a grandeza do esforço perceptivo e laborioso da artista e pede aos seus admiradores e observadores, no mínimo, a mesma pré-disposição dos sentidos. Com os olhos voltados a este traba-lho de ‘grande realidade’, hiper-realismo, agudeza e versatilidade de sentidos são ferramentas pri-mordiais.


A dinâmica de trabalho


No trabalho hiperrealista de Linah Biasi podemos perceber algumas atitudes fundamentais inerentes a esta maneira de pintar. Fotografar a realidade, registrar o momento, captar um detalhe e manter o diafragma sempre aberto são as quatro atitudes presentes no trabalho da artista que nos permitem entender um pouco mais da sua dinâmica de trabalho.

Fotografar a realidade: o desejo de eternizar que expressa a ânsia criadora.

O grande desafio do hiper-realismo é retratar a realidade sem reduzir o viço de sua naturali-dade. A possibilidade de vencer este desafio acontece quando a artista, na sua pintura, se esmera em fotografar a realidade. Este movimento mostra o desejo da artista de pôr diante do observador uma cena do cotidiano, outrora desapercebida. Esta cena é tratada com uma atenção fotográfica que permite ao observador constatar a novidade de uma realidade tão comum ao seu dia-a-dia. Como é uma prerrogativa da foto eternizar uma cena da realidade, o trabalho hiperrealista retrata uma cena do cotidiano movido pelo desejo de eternizar aquela realidade. Este desejo expressa sua ânsia cria-dora, pois põe em destaque uma determinada fatia da realidade que sempre esteve presente, mas ainda não percebida em seus detalhes. O trato hiperrealista dado a esta fatia da realidade coloca-a em evidência e dá a sensação de que ela está sendo realmente vista pela primeira vez. E o que ve-mos pela primeira vez, é a nova criatura, nascida aos nossos olhos.

Registrar um momento: a arte de documentar história para a memória.

Do processo de fotografar a realidade, desdobra-se um outro movimento. Ao mesmo tempo em que a foto eterniza um momento, ela permite que ele possa ser registrado. O registro é um do-cumento que dá ao momento um caráter histórico. Ele deixa de estar inteiramente ligado à sua tran-sitoriedade e adquire a possibilidade de escapar do esquecimento próprio das coisas reais. O mo-mento documentado poderá sobreviver na memória. Este movimento, dentro do trabalho hiperrea-lista, procura fazer com que a temática retratada mostre-se a partir dela mesma, naquele determina-do momento captado e registrado pela artista.

Captar um detalhe: a atenção às minúcias das partes para lançar-se ao todo.

A atenção aos detalhes é fundamental dentro do hiper-realismo. É somente através da fideli-dade aos detalhes que a artista pode alcançar a plenitude de seu trabalho: aproximar-se da realidade. Os detalhes compõem, minuciosamente, as pequenas partes da temática que permitem que o todo possa ser percebido. Os detalhes atuam no hiper-realismo, de modo especial, para conduzir a per-cepção do observador diretamente para o todo. Apreciar uma obra hiperrealista é contemplar o que de realidade ela oferece. Como os nossos olhos estão corriqueiramente habituados a perceber a rea-lidade em grandes cortes visuais, o desafio do hiper-realismo é retirar desta realidade, ligeiramente percebida, um determinado momento e dar-lhe um trato refinado às minúcias de suas partes para que, de modo detalhado, ele passe a ser percebido como um todo em si, componente fundamental da realidade.

Manter o diafragma sempre aberto: intensificar o presente e exaurir o tempo.

Todo este trabalho de percepção é exigente. A tarefa de fotografar, registrar o momento e perceber as minúcias de seus detalhes não pode acontecer de um instante a outro. Os olhos quase que não podem piscar. Do mesmo modo que na arte de fotografar, o tempo de exposição da película à luz através do diafragma é fundamental, o hiper-realismo pede aos olhos uma abertura de dia-fragma mais intensa. Só assim a luz poderá conduzir as cores da realidade e imprimir na película da percepção o momento observado. Manter o diafragma sempre aberto permite à artista intensificar a percepção diante da realidade presente para tentar percebê-la em sua totalidade. Esta relação intensa da percepção com a realidade não pode prender-se no tempo. O tempo passa. O que está no tempo é transitório. Este olhar intenso leva à exaustão do tempo, pois deseja a realidade presente em sua plenitude.

A assinatura



Óleo sobre tela - tela de 60x90
Série: Um olhar além do ovo - Hiper-realismo

O hiper-realismo de Linah Biasi, na série “Um olhar além do ovo”, apresenta uma marca sutil que nos permite identificar a sua assinatura neste trabalho: o fundo em azul intenso e reflexo na base.

O reflexo no em azul intenso é o paradoxo da escuridão, pois só há reflexo no em azul inten-so quando ele não retém a luz ao absorvê-la. O reflexo no em azul intenso é sinal de que ele foi ca-paz de absorver a luz e oferecer de volta o que recebeu, como se a sua escuridão fosse capaz de re-gurgitar a luz recebida como alimento, que para ele é promessa de continuidade à vida.
Luz e escuridão jogam um com o outro as suas razões de ser. O reflexo no em azul intenso é a possibilidade de diálogo entre luz e escuridão. Ao mesmo tempo em que há uma relação tensa de oposição - luz e escuridão - há uma interrelação entre ambos que lhes permite desvelar mutuamente os mistérios de um ao outro.

A atenção dada ao reflexo em algumas das telas da série “Um olhar além do ovo” contribui com a tarefa de inserir a percepção do observador dentro do espírito da artista em sua empreita de retratar a realidade. O cuidado com o reflexo confere à obra um ar de presença no tempo do obser-vador que permite que os dois travem entre si um diálogo de apresentação e conhecimento.

O reflexo na base nos dá também a ligeira impressão de fluidez. Aqui percebemos um outro paradoxo presente nesta temática hiperrealista. A realidade captada e representada pela artista está ao mesmo tempo presente e também se esvaindo naquilo que ela pode oferecer de si àqueles que a apreciam: o seu reflexo. Se há a tentativa de fidelidade aos detalhes para poder retratar um momen-to o mais possível próximo à realidade, exaurindo o tempo na intensidade do olhar, está a ressalva à transitoriedade da realidade, que se reflete no mundo à sua volta e, ao ofertar a si mesma, se sujeita à mudança.

A luz de suas telas vem da esquerda para a direita, devido à casualidade do espaço no qual as telas foram pintadas. A artista vê nesta casualidade uma analogia à luz que vem do alto, que guia os passos do viandante, os velejos de um navegante.


Adriano Lima
Escrito na primavera paraisense de 2005

Uma história em traços, tintas e rabiscos


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“Singrar os mares das tintas,
aportando sempre em estilos diferentes de pintar,
é a maior travessia que qualquer artista pode efetuar”.
Linah Biasi

Assim define Linah Biasi sua trajetória como artista plástica. A infinidade de caminhos que as cores abrem e as inúmeras possibilidades de trilhá-los, lança o artista na inesgotável viagem no mar da criação. O artista está sempre às rédeas do infinito enquanto singra este mar entre traços, tintas e rabiscos. Sua travessia expõe ao olho desapercebido, preso à margem do finito, o horizonte que descortina esta realidade para além do que os olhos podem alcançar.

Traços de sua personalidade artística



Óleo sobre tela - tela de 60x90 cm
Série: Um olhar além do ovo - Hiper-realismo

Em seu trabalho, a artista Linah Biasi diz ter uma preocupação em especial com a luz. Ela dá valor à luz como o ressurgimento da escuridão. Esta experiência só pode ser sentida “a partir da experiência das trevas”. É preciso estar atento, olhos abertos para perceber a dança suave entre luz e sombra.

É neste sentido que a artista valoriza o papel da visão. Em seus trabalhos, estimular os sentidos é o caminho de diálogo entre o observador e obra de arte. Sem estimular os sentidos não há como entrelaçar o observador nesta aventura de perceber o tênue bailar das cores e temas explorados em cada obra.

Além de valorizar a visão, Linah Biasi se considera uma “amante do silêncio”. Quando está trabalhando em seu atelier, há sempre uma música para acompanhar o trabalho. Geralmente esta música, escolhida a dedo em seu esmerado acervo, é tocada num volume bastante alto. Mesmo tento uma audição seletiva, ela facilmente se desliga do mundo quando está pintando. “Ao ouvir música tenho que pôr o volume mais alto, pois me concentro fortemente na obra que estou pintando e quase me desligo de tudo mais”.

É ainda peculiar em sua personalidade artística sua maneira de olhar o mundo a sua volta. Ela se impressiona com a diversidade do feitio das expressões faciais da multidão deste país. De modo especial, são sempre percebidos como o ponto mais expressivo em cada rosto. Conta que, estando em alguns países da Europa, esta diversidade não é tão sentida. Observar a multidão no Brasil é quase uma experiência anatômica feita com os olhos. É como estar diante de uma imensa enciclopédia viva, que registra as mais variadas e possíveis combinações de feições das raças e do povo brasileiro.

Tintas nos pincéis, nas telas e nas mãos


O nome artístico Linah Biasi foi escolhido a partir de seu ambiente familiar. Do seu nome Pascoalina, veio Linah, a forma carinhosa de ser chamada pelos seus. E Biasi veio do nome de sua avó.

Linah Biasi começou a “singrar os mares das tintas” estimulada pela presença de sua tia Cecília Coelho Carreras, laureada artista em São Sebastião do Paraíso. Linah conta que, no início, sua tia resistiu ao seu interesse pela pintura. Mas depois da insistência e da condição de conseguir mais duas colegas para as aulas, Linah conseguiu começar a pintar, com a idade de nove anos.

Para suas primeiras aulas, ela não tinha material próprio e tinha que usar o material de sua tia. Sob a paleta da tia, Linah Biasi deu inicio a sua aventura no mar das tintas e, com doze anos de idade, começa a pintar sozinha. Nas voltas futuras de sua vida, Linah também teve a possibilidade de ensinar os velejos da arte a seus sobrinhos.

Com toda sua experiência como artista plástica, Linah Biasi conta que “nunca viu nem a tia nem outro artista pintando”. Este é um sonho realizar. O primeiro atelier a conhecer foi o do Sr. David, em Guaranésia - MG, que pinta flores.

A experiência com a tia, a decisão e persistência em pintar sozinha e este distanciamento de uma aprendizagem da arte a partir do modelo de outro artista pintando, seguramente ensinou Linah Biasi a empreender seu dom, sua carreira e sua profissão como autodidata. Isto nos permite dizer que, para Linah, “singrar os mares das tintas” é uma tarefa que é antes vivida e sentida na solidão do espaço de criação do artista-navegador, para depois ser compartida com o observador, tripulante ou não.

Quando indagada sobre o que é mais fácil e difícil na arte, Linah Biasi diz que “a inspiração dita o que é fácil ou difícil”. O artista está à mercê de sua inspiração. Linah diz ainda que para pintar, preparar o “campo cirúrgico” é fundamental. É imperioso para ela dispor seu local de trabalho de forma cuidadosa e detalhada. Observar a iluminação, posicionar as tintas e pincéis, deixar o telefone em local estratégico, selecionar a música. Em sua dinâmica de trabalho estes detalhes requerem precisão cirúrgica.

O ambiente bem disposto ajuda a artista a desvencilhar-se de quaisquer barreiras, por mínimas que sejam, para mergulhar no oceano de seu trabalho. A cada jornada de trabalho, somente limpar pincéis é chato!

Em sua trajetória, Linah Biasi tem se dedicado muito a fazer trabalhos por encomenda. Este tipo de trabalho lhe garante uma forma de remuneração. Contudo, para ela, é um trabalho difícil. São trabalhos direcionados ao deleite quase exclusivo de quem o encomendou. Não são trabalhos que permitem extravasar seu espírito de artista e criar a partir de sua inspiração.

Fazendo um giro completo ao redor de sua produção artística, Linah Biasi não se sente paisagista. Apesar de ter uma afeição especial em fazer flores, não se sente contente com as flores que faz.

Rabiscos do pensamento


Sobre a produção contemporânea, Linah vê pouca produção com figuras humanas. Ela pensa que isto se deve ao fato do “homem estar fugindo do homem”, ou por ser o retrato o gênero mais difícil de ser pintado. A arte moderna tem tomado terreno, por isto ao rosto saiu de moda das telas, comenta.

Seu mais recente trabalho é o que ela chama de “produção para o seu próprio deleite”. Trata-se de trabalhos realizados na perspectiva do hiper-realismo. É um desfio novo na sua carreira e um trabalho encomendado exclusivamente pela sua alma de artista. Linah diz que há muito tempo queria iniciar o trabalho com o hiper-realismo, pois até então havia feito trabalhos para o deleite dos outros, por encomendas.

Nesta primeira série de trabalho, a artista se debruça sobre a temática “Um olhar além do ovo”. Sua tentativa é explorar os meandros da presença cotidiana de ovos e outros objetos inspiradores nos lugares e formas mais rotineiros, muitas vezes desapercebidos pelo olhar estritamente utilitarista e consumidor. Este tipo de trabalho é inédito em sua obra, o que seguramente exige mais de sua capacidade técnica e aguça o empreendimento de seu espírito artístico.

Como seu espírito criador se mede pela imensidão do mar que navega, Linah tem em mente a idéia de uma próxima série de trabalhos dentro do hiper-realismo. A temática será sobre rostos e possivelmente se chamará “Feições do mundo inteiro”.

Em toda sua trajetória como artista plástica a obra que considera mais importante é “A mulher do Balseiro”, feita na adolescência em 1978. Trata-se de um óleo sobre tela de 40x30 cm, que retrata uma mulher grávida, segurando uma criança no colo, acariciando uma outra em pé à sua frente, com mais outras ao seu redor.

"A mulher do Balseiro"
Óleo sobre tela - tela de 40x30 cm
Adriano Lima
Escrito na primavera paraisense de 2005

quinta-feira, maio 07, 2009

sexta-feira, abril 10, 2009

Rubor (rubrofita adriatica)

Rubor (rubrofita adriatica)

A flor dessa flor
encanta, aos olhos,
encanta os olhos

A flor dessa flor
cheira
exala
entorpece
apetece
cala
beira

Cheira a presença de tantos olhares
Exala a lisura de tantas carícias
Entorpece as entranhas despreocupadas
Apetece os ventres mais estéreis
Cala os sentidos loquazes do hóspede
Beira os limites que a razão não alcança

A flor dessa flor
nasce aqui,
só aqui e não lá

A flor dessa flor
é matutina
laboriosa noturna

A flor dessa flor
é rubor

Cada guerra

Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...