quarta-feira, dezembro 31, 2014

Desejos de fim de ano

Desejo que o fim do ano
não acabe com suas andanças

Olhamos para trás
e vemos rotas feitas
caminhos traçados
e viagens
que não saíram do papel

Desejo que o fim do ano
não acabe com seus desejos

Pode ter faltado
uma visita a fazer
uns quilinhos a perder
a promessa
de um abraço, um beijo

Desejo que o fim do ano
não acabe com seus projetos

Tinha um negócio novo
a reforma da casa
aquela carta não respondida
abandonada
mas guardada na gaveta da memória

Desejo que o fim do ano
não acabe com seus sonhos

Fazemos novos planos agora
damos uma olhada no passado
vemos histórias reviradas
pendentes
e aumentamos nossa lista de sonhos

Desejo que o fim do ano
não acabe com seus encontros

Quando revisitamos as pessoas
na memória partilhada
nos dá vontade de parar o tempo
rebento
recriar novas chances de encontro

Desejo que o final do ano
não acabe com seus planos

Mais bem,
que lhe abra novos caminhos
       lhe renove a esperança
             traga novos projetos
                      novas histórias

Mas, sobretudo,
novos encontros
mais do que com novas coisas
ou com novas situações

Que sejam re-encontros
pois novos encontros
não dependem só de pessoas novas
é a novidade que você carrega
que pode deixar tudo novo,
de novo!

Feliz ano de (re)encontros!

Paraíso, 29-12-14

terça-feira, dezembro 30, 2014

sábado, dezembro 20, 2014

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Strange lovers share nothing

We are perfect strangers to each other
there are some wishes we pretend to share,
but truly we do not trust each other
the same way we share a desire

No profitable fruit will be grown
between us, among such variety of absences

So even we keep trying any relation
there will be always a distinction
to seal our love-empty dialogues,
only full of words we share
like playing a puzzle
without picture on it

terça-feira, dezembro 09, 2014

Ao me deixar partir

Nunca vais saber
se fizeste a escolha certa
ao me deixar partir

Nunca vais poder dizer
que ainda resta uma chance
para me fazer retornar

Deixaste-me partir com desejo
sequer provaste de meu beijo
que ainda te quero dar

Mas a banda da distância,
teu silêncio e tua ausência
tocam a música do mútuo esquecimento

Logo seremos só uma história
um lampejo na memória
sem que me possas beijar

Uma vez mais

Volta no tempo comigo!,
e me diz "Olá, você veio mesmo!",
como naquela primeira vez

Faz-me arder em teus braços uma vez mais

Tira-me o fôlego de novo
ajusta a água de meu banho
e depois oferece-me uma bebida gelada

Repete comigo tuas carícias
teus beijos galantes
e aquela timidez no olhar

Depois rouba-me mais um beijo
e consegue de mim
as carícias que te agradam

Diz-me que és Regente do Tempo
e surpreende-me
abrindo tua porta de entrada
uma vez mais

Te amo

Te amo, de uma maneira sincera e serena,
lutando contra o açoite do tempo
e o abismo de qualquer distância

Te amo, de uma maneira deslavada,
desfeita de (06-12-14) qualquer pudor
e intenções não ditas

Te amo, descaradamente
e às escondidas,
quando velo teu sono

Te amo quando me mentes,
quando me dizes a verdade
e quando tenho que explicar-te os porquês

Te amo, em teu sorriso lindo,
em tuas lágrimas exageradas
e naquelas descontroladas por natureza

Te amo, quando brigamos; bom, nem tanto,
mas quando fazemos as pazes,
te amo mais

Te amo, querendo que não partas
te amo, querendo que regresses
te amo, indo e vindo

Te amo, destas maneiras e de outras
de um modo repetido ou surpreendente
sempre que te conheço mais

Te amo, descansada e incansavelmente
enquanto estejas presente
para que te possa amar

Paraíso, 04-12-14 e 06-12-14

A definição: inter abismus

Sou um andante solitário,
até a contra-circunstância.

Definir-se é sempre um risco,
a armadilha de um espelho
translúcido e cambiante.

O que sei de mim até o momento?

Memórias e intentos de recordação
de uma história que me escapa,
porque ainda inacabada.

Andante, porque há futuro;
solitário, por imposição da dor;
até a contra-circunstância.

A vantagem do risco,
é sempre surpreender-se!

Paraíso, 02-12-14

quarta-feira, novembro 26, 2014

segunda-feira, novembro 10, 2014

Apologia às cartas

Uma missiva sempre teve poder de mudar rumos.

Desrumados que estamos hoje, mal recordamos o poder transmutador do papel-carta, com as sopesadas palavras em tempo e distância.

Nossas cartas mais frequentes já nem cartas são. Contas, cupons, extratos, propagandas, folhetos, panfletos e aquelas folhinhas sem fim de mensagens religiosas para um mundo depois do fim. Missivistas e mensageiros do céu. Vamos pular a fazer das campanhas eleitorais. Não é de bom om falar do céu e, de imediato, falar do inferno.

Estou em trânsito, longe a passeio, viajando a trabalho, mudei-me para outro lugar. Espero que esta, desejo que estas linhas, escrevo-te esta, escrevo-te estas linhas. Saudade e beijo! Desejo e felicidade! Faz tempo que não te vejo! Volto em breve! Volte logo! Mande notícias!

Por que ainda existem cartas, mesmo poucas que são?

Por que encurtar as distâncias e diminuir o tempo entre remetente e destinatário ainda não suprem a necessidade das missivas de outrora?

"Beijo-vos no início da carta e não no fim, como de costume, por impaciência".
(MAIAKÓVSKI. Vida e poesia. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2011, p. 188. - Carta a Lila e a Óssip Brik, Moscou, 25 de dezembro de 1917).

As cartas são para um beijo.
As cartas são para um abraço.
As cartas são para um encontro.

São esse pedaço de papel frugal
que carrega sentido, desejo e eternidade.

São degraus de uma escada,
os elos de uma corrente,
as plumas de asas que voam céus,
mas que também pisam terras.

Ainda abro, desejoso,
minha caixa de correio.

Espero receber teu beijo,
                        teu abraço,
                        encontrar-te uma vez mais.

terça-feira, novembro 04, 2014

A maldição do fauno

Após conhecer-te, fauno,
perdi o sentido da fantasia,
acabaram-me as ânsias
fortuitas e recorrentes da imaginação

Tua ausência,
recobrada na memória,
ocupa cada canto
de meu fatigado pensar

Entre as ruínas da recordação
queima enfraquecido
um fio de desejo
que dobres tuas natureza e vontade

Mas o que me resta
de razão e amor próprio
escancaram-me sem dó
o orgulho das criaturas míticas

Amaldiçoados, que estamos,
nos resta uma espera,
paradoxal e trágica,
pois é desejosa, sem desejo

Phaunos

I've met a faun once.
But at a glance,
in the blink of an eye,
he disappeared.

Havia o desejo da procura.

Até aqui havia também reciprocidade.

A espera, quarenta anos bíblicos, teve seu fim na casualidade de um clique.Um curtir, que os antigos talvez só possam entender como cultivar. Mas nós, hoje, não entenderíamos assim com tanta facilidade. Ainda transitamos, confusamente, entre curtir e cultuar.

Após este toque mútuo, uma sucessão de perguntas sinceras, despudoradas, radicais. Ânsias duplicadas em deixar claro os limites d'um encontro. Esta sucessão frenética de diálogos intensos seguiu-se por mais três dias. No quarto dia, confiados nos luzeiros da criação, ambos nos movemos sobre a terra na intenção de amiudar, até então, a distância entre nós.

A primeira troca de olhares. A primeira saudação. As primeiras palavras. As orientações para dirigir até o lugar apropriado. Estas ações todas tentaram amenizar o estranhamento ainda presente naquele momento. Fomos cedendo à presença um do outro, até estarmos entre quatro paredes silenciosas.

Tudo parecia ir bem, como se esperava que fosse, após planejamentos detalhados, acordos consensuais, desejos calculados e medidos, preocupação com o prazer do outro. Mas a circunstância do momento, a condição das primeiras vezes, nos colocaram no idílio de olhares e desejos assustados. Nem todo estranhamento havia sido desfeito. Sucedeu-se o fracasso. Vieram momentos de compreensão, uma poesia, uma música. Ah, endemoniadamente, os faunos cantam. Candura e singeleza misturados ao frêmito da última tentativa de prazer não efetivada. Este fauno me cantou em francês.

Então procedeu-se uma conversa de trivialidades. Na realidade, mais um monólogo, enquanto tentava aplacar a irrealização do conúbio idealizado, com carícias últimas e um silêncio ouvinte, enquanto o outro se desfazia em narrativas autorreferentes, entremeadas com bocejos sucessivos, quase metódicos, mas certamente mais sintomáticos que simbólicos.

E chegou-nos a hora de partir. Fomos nos recompondo, cada um à sua maneira, pois cada um devia recuperar a seu mundo. Compartilhamos ainda o transporte, os momentos finais de um regalo esperado e, por fim, voltamos ao mundo ausente de quatro paredes. Voltamos à multidão, sem sequer pensar numa multidão de lacunas que começavam a surgir entre nós, em nós.

Veio a hora do adeus. As promessas, agora, foram menores, mudas, quase inexistentes, pois o próprio adeus parecia, sozinho, ocupar todo espaço cada vez mais alargado entre nós. Nem mesmo o último ósculo fez diminuir esta distância, pelo contrário, ósculo contrário e reverso, divisor de corpos, de desejos, ampliador de espaços, quase ósculo da discórdia, mas, com certeza, ósculo da distanciação.

Primeiro na penumbra, depois na curva de uma esquina. Ele sumiu. Tentei olhar para trás, mas as sombras tornavam uno todo aquele passado. Só me restavam as certezas do encontro e da partida. As incertezas... melhor não enumerá-las.

He disappeared
like all the others do,
magically,
for hi is a faun.


Paraíso, 02-11-14

segunda-feira, novembro 03, 2014

Pharmaco-poética

Gosto de poesia.
Ajuda a quebrar
a dureza da realidade,
encurtar distâncias,
driblar as horas.

Paraíso, 20-10-14

Ao ler poemas

Rio sozinho
ao ler poemas
porque muitos deles
desfazem a solidão
de minha rotina hodierna

Paraíso, 20-10-14

sexta-feira, outubro 31, 2014

Desejos sem freios

Não quis desperdiçar-te um poema
não quis dispensar-te um galanteio
na aurora de tua vida
os valores são outros
os desejos não têm freios
e na tua pressa de satisfação
vi as areias do tempo escorrerem
tão fugaz o prazer que buscas
quanto a paz que te acompanha ao leito noturno
esta voracidade indomada
far-te-á ver no espelho
um outro animal que não és
minha única prece
é que os anos te sejam dóceis
te sejam docentes
pois poucos entes desta febril empreitada
sobrar-te-ão na maturidade
e ao buscar o tempo perdido
duvidarás daquilo que quase
já não te resta mais:
uma unidade
ante o espelho de tua história

Paraíso, 05-10-14

Perdas e ganhos

O que perdemos
quando nos desencontramos
de alguém que não consegue
achar quem está à procura?

Porto Alegre, 15-10-14

Entre portos

Só, Porto Alegre já é.
Contigo, Porto Feliz seria.

Porto Alegre, 14-10-14

domingo, outubro 05, 2014

Meu gênio ou Meu primeiro desejo

Talvez eu te faça outros pedidos
mas nunca te pediria mudanças
te quero assim
como já és

Talvez te peça mais um abraço
um outro beijo
ou o olhar daquela primeira vez
mas não te pediria submissão

Talvez te peça um carinho
ou que uses de sinceridade
ao revelar o que queres
mas não te pediria sacrifícios

Talvez não te peça mais nada
enquanto a meu lado estás
E se insistires, repetirei só o primeiro
que me desejes como1 eu te desejo

1 - Querer que o outro me deseje à medida do meu desejo, “como” eu desejo, supõe que, ao desejar-me, o outro mude a si mesmo, que se submeta ao desejo do outro e que sacrifique sua forma de desejar. Desejar, como o outro deseja, é fingir. Desejar o outro, sem mudanças, submissão ou sacrifícios, é uma tarefa antagônica. Mas qualquer desejo escapa do fingimento quando há amor.


Paraíso, 24-09-14

sexta-feira, outubro 03, 2014

Lamento des-amante

Vivemos qualquer coisa
de forma intensa e desordenada
que,
com o silêncio e a distância,
pode perder o sentido,
sem mesmo ter sido.

domingo, setembro 28, 2014

Olhos e coração

"O que os olhos não veem,
o coração não sente."

O que os olhos já viram,
o coração ressente.

Quer curar o coração?
Cuide do olhar.

sábado, setembro 27, 2014

Deixa

Deixa a surpresa ser recíproca.
Deixa a sinceridade superar nossos limites e essa distância.
Deixa que um sonho a mais apareça.
Deixa que nossos desejos se encontrem.
Deixa que nosso primeiro beijo aconteça!

Paraíso, 26-09-2014

Relutância

Anseio teus lábios pela manhã
mas me nego a beijá-los
se pela tarde
queres ir embora

Paraíso, 08-03-2013

Dissonâncias

Dois desejos na contra-mão
uma esperança que liga
a tênue membrana protetora entre dois corpos

Dois universos que se conhecem
                                   se reconhecem
                                   se guardam na lembrança
                                   se recusam
                                   se acusam
                                   se usam

Versos soltos
de declarações que se querem comuns

Sentir o pulsar, um do outro,
temer a perda do próprio eu
por causa de um amor sem limites

Dissonâncias!

Só mesmo estando separados
para se perceberem juntos

Paraíso, 25-08-2009

sexta-feira, setembro 26, 2014

Ao meu amigo recém-saído do Claustro Beneditino

Espero que esteja bem!

É hora de fazer as malas, recolher os frutos de sua experiência e seguir adiante.

Ouvimos de fonte comum que, muitas vezes, o mosteiro pode fazer parte de uma fase na vida de alguém. A experiência do claustro pode ser duradoura, mas também pode ser só uma passagem.

Qual o conteúdo de sua bagagem? O que você irá levar consigo depois desta vida orante e laboriosa? Não há coisas para carregar. Não há peso que sustentar na alça da mala. Há somente você mesmo. Há uma vida que segue. Há um caminho por trilhar.

Mesmo que suas preces mais sinceras pediram, um dia, forças para ficar, para resistir às intempéries e destemperos da vida comunitária, aceite que elas agora peçam forças para sair, para seguir deste ponto em diante.

O claustro também é transitório. Nós também somos transitórios, mas antes de tudo, somos caminhantes!

Bem-vindo ao século! Que sua volta à vida mundana possa ser, acima de tudo, humana.

Seu amigo secular,

O humano que somos

Ofender e sentir-se ofendido
nos distingue dos animais.

Como lidamos com a ofensa
pode nos tornar sublimes,
perecivelmente sublimes.

Minha angústia lhe cura

Cada poema
deveria ter o preço
da terapia
que lhe ofereço

quarta-feira, setembro 24, 2014

As pedras da vida

Uma pedra no fundo do rio
arranha a água
se as águas são poucas

Mas, se o rio cresce
qual pedra?
é somente memória do vencedor

sábado, setembro 20, 2014

Resistência

Há de existir outros problemas,
mas a felicidade é sempre uma opção

João de Barro

Chove chuva
porque João de Barro
está só

Chove e molha a terra
porque João
não quer ser João de Pó

Este passa, os outros passarão

Todo fardo tem seu peso,
mas o jeito de carregar
pode deixá-lo mais leve ou pesado

É preciso deixar
que os problemas passem,
porque outros também virão

O que a gente
não consegue resolver, ainda,
um dia será fumaça e dissipação

sexta-feira, setembro 19, 2014

Tua herança

Tua ausência
não me deixa só
a recordação
que carrego de ti
é minha companheira
é a ilusão mais real
de tua presença

Sei que tudo isto
é fumaça ao vento
mas é a coisa
mais sólida
que me resta
a preencher
meu vazio

Desejo que regresses...
...não sei
talvez este outro
que criei de ti
em tua ausência
já ocupe
teu lugar em mim

quinta-feira, setembro 18, 2014

Trem doido di sicura, sô

Tão falanu que na sicura dessis dia
u sabiá canta forti pedinu chuva
Ce tein qui sê forti, sabiá!

Con-ver(sem)-ter-se

Quando a solidão bater à tua porta,
talvez eu não tenha porta mais,
nem mesmo portas a mais

Tua ausência dissimulada

O ímpeto de algumas paixões
não resiste
à distância
ao silêncio
ao tempo

E, quando os amantes
começam a dissimular a ausência,
pode ser que os mesmos braços
já não se entrelacem mais

sábado, setembro 13, 2014

Minas ainda vai ter mar

Quero uma praia em Minas Gerais.
Quero uma montanha de mar
e se montanha não for válida nesta geografia
quero um monte mesmo, um monte de mar

Quero um mar mais alto que o morro
um mar mais largo que o horizonte
mais aberto que o céu
límpido que o ar

Um mar que me cerque por todos os lados
um mar que limpe minha alma
com a salinidade da cura
com o frescor do aconchego

Nossa capital será Belo Marizonte
nosso horizonte transcenderá de beleza
maresia com queijo e goiabada
maresia com cachaça e uma certeza

Minas ainda vai ter mar

Este nós ausente

Neste silêncio
que nos aparta
se te desejo,
é perdimento,
se me escuto,
tua ausência
povoa minha memória

Cadeias do sentido

Toda forma de expressar-se
é uma forma de prendimento

Paraíso, 08-09-2014

A dúvida

A dúvida é o pior de todos os demônios

Porta fechada
num corredor escuro
acesso espinhoso
passos no ar

Achas que me revelo
imagino conhecer-te
teus desejos me surpreendem
quando meus desejos inverto

Nos entregamos por um momento
sucumbimos ao contato
mas espalhamos pelo vento
as sensações de nosso afeto

Quem mais de nós
se escondeu?
Quem mais de nós
encarnou a personagem?

Fingimos a poesia de um abraço
suportamos mazelas recíprocas
sinceridade à conveniência
escambo de tolerâncias

Quem de nós
foi natural?
Quem de nós
perdeu-se no artifício?

Maquiamos as suspeitas
e nos entregamos estes mapas
as coordenadas são verdadeiras?
o tesouro vale a busca?

A dúvida é o pior dos destinos


Vinhedo, 06-09-2014

quinta-feira, setembro 11, 2014

Platão desvirtuado

Chamamos de realidade
àquilo que nem real é

Idealizamos o virtual de tal forma,
pressupondo que, sim,
ele se refletirá e se realizará na physis

Arquitetamos um ideal
cuja virtus não recairá
nem em nós,
nem nosso mundo

É possível que,
no futuro,
não nos reste distinguir sequer
o que ou a quem reminescer

Tempestade e bonança?

Às vezes um turbilhão de palavras
precede uma vastidão de silêncios


quarta-feira, setembro 03, 2014

terça-feira, setembro 02, 2014

In a battle against silence

I found myself being too noisy
while dealing with the silence
The mirror of fate has made me to face
that it's time to shut up my mind

Now I close my eyes to help me listening
to the reminiscences I've created in my soul
What will last longer after this god's work?
Whatever it may be, it will be a surprise to endure

Life continuously surprises us
every day, after a prize or a lost
What will last longer after this fight?
Someone standing up to his due meaning

We shall fight this together!

Words between us

Don't throw me to the silence
that's where I've lost my balance
take me back to your route
where the journey is so cute

Never wait for asking
never guess what is passing
let the words fall between
we'll have all doubts clean

Let's embrace destiny
while time leads us so happy
'cause after all that's possible
no mistakes should be conceivable 

Fatalidade inefável

O silêncio
pode ser uma forma cruel
de dizer adeus

segunda-feira, setembro 01, 2014

O paradoxo do silêncio dos amantes

Das diversas linguagens do amor, talvez o silêncio seja a mais paradoxal.

Alguns instantes de silêncio semeiam dúvidas, aceleram a imaginação sobretudo se os amantes estão separados fisicamente. Esses silêncios longínquos somente contribuem para aumentar o nível de cobrança, que começa por uma das partes, se torna recíproco e prenuncia a separação.

Alguns instantes de silêncio, mesmo que a distância, podem também ser sinal de quaisquer outras fatalidades, desde imprevistos à insegurança de reencontrar-se. De um extremo a outro, só o diálogo poderá esclarecer as lacunas desta ausência.

Alguns instantes de silêncio podem confirmar a sublimidade do encontro, podem somente significar que as palavras estão exauridas e a eloquência da presença, do contato, do olhar satisfaz qualquer necessidade de sentido.

Alguns instantes de silêncio podem abrir o baú do passado, desenterrar as recordações desencontradas e interditas, muitas vezes irrefletidas, que são o motor da dúvida. A imaginação tem força assustadora no silêncio e na solidão.

Podemos nos silenciar à presença de quem amamos, como confirmação de graça ou desgraça.

Mas quando nos silenciamos na ausência do ser amado, o tempo se encarrega de mudar esta distância, geradora de saudade, em um mar de insegurança que ensurdece o coração.

Treinar-se para o silêncio do amor parece ser uma tarefa tão contraditória como o próprio ato de amar.

Iludir-se na ausência silente do outro é um caminho que se faz só e que desemboca o coração angustiado nas torrentes das hipóteses mais contraditórias que possam haver.

A espera, ante o silêncio obstinado do outro ausente, só se cura também de forma paradoxal: é preciso silenciar-se desde dentro. Não se trata mais de intus legere, mas de intus audire. Silenciar os espasmos da dúvida, da insegurança, da imaginação, para ouvir as pulsações de um coração à espera.

E se este silêncio ajudar a ouvir que o outro não vem, que não se ouvem mais seus passos chegando porta a dentro, este mesmo silêncio trará lucidez para recomeçar um novo amor, seja este a si mesmo ou a outrem.

Tua ausência
me traz desassossego
teu silêncio
arranca de mim a direção

Sigo à tua espera
entre medo e desejo
driblo e sucumbo-me
às rédias da imaginação

Mas se a hora
de tua presença tarda
volto a escutar-me
antes de perder-me cada vez mais

A quem amamos,
quando amamos a alguém?
A quem escutamos,
quando não ouvimos a ninguém?

E se ainda espero
pode ser que não seja mais por teu retorno
espero minha hora
de recomeçar

sexta-feira, agosto 29, 2014

O nível do mar

Tão longe da profundeza do abismo
quão longe da plenitude do céu

Acima de toda desventura
Abaixo de toda sublimidade

terça-feira, agosto 26, 2014

Beijos e nada mais

Beijos plurais!
Beijos matutinos!
           vespertinos!
           noturnos!
Beijos inoportunos!
Beijos sem hora!
Beijos com demora!
Beijos, beijos e beijos!
E nada mais

segunda-feira, agosto 25, 2014

Vigor ou O jardim da vida

De manhã,
brota e extasia
vigora o dia

De tarde,
murcha e fenece
vigora a prece

À noite,
tomba e vira humus
vigora o rumo

Paraíso, 20 ago. 2014

sábado, agosto 16, 2014

À tua espera

Vou fazer bolinho de chuva
e, mesmo que não chova,
esperar tua chegada

Vou arrumar a casa
e, mesmo que sem mudanças,
arrumar-te um cantinho

Vou enfeitar as janelas
e, mesmo que o sol não apareça,
arejar tua visita

Vou percorrer os jardins
e, mesmo se houver espinhos,
enflorecer-te os olhos

Vou sentar-me na varanda
e, mesmo que demores,
estarei à tua espera

Vem logo!

Paraíso, 12 ago. 2014

Pré-tensão da palavra

Sei o infinito.
Mas não sei a infinidade de palavras.
O que me resta, antes do grito?
Este silêncio ensurdecedor inexprimível
                                         inexpressável
                                         estruturante
                                         poiético

Existir entre palavras mudas
ante a ausência abissal de sentidos,
vez por outra, elas, ausentes

Nada preenche melhor este vazio
que a imaginação criadora
que faz até ser alguma coisa
aquilo que nada é

Paraíso, 11 ago. 2014

sábado, agosto 02, 2014

Ao meu amigo da Cartuxa

Querido amigo,

Opera et spes! Opera e espera!

é preciso esperar!!! Se você sabe que o ônibus passa por aí, espere!!! Arrume o que puder arrumar no lugar que você vai deixar para trás. Não leve muita bagagem, pode parecer aos que ficam que você nunca mais vai voltar; peso em excesso dificulta mover-se de um ponto a outro até o destino final; pouca bagagem dá espaço para construir o que lhe faltar onde você chegar!!!

Omnia humana transitora sunt! Todas as coisa humanas são transitórias!

Tenho aprendido que o mais difícil do desprendimento, é encarar a transitoriedade! Quais e como as crenças nossas subsistem ao peso do que agarramos com quaisquer braços da fé? O pai do existencialismo diria ser este o salto da fé. Tudo passa! Crer é desprender, e desprender-se

Vita unica est. Há apenas uma vida.

Credente, sperante et vivente. Crendo, esperando e vivendo.

Minha prece, e a prece de Santa Tereza D'Ávila:

"Nada te perturbe, Nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
Só Deus basta.

Eleva o pensamento, Ao céu sobe,
Por nada te angusties, Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, Tudo passa.

Deseje às coisas celestes, Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!"

sábado, abril 12, 2014

Sanity

As well as I know your thoughts,
it is still time to change all desires
that once jumped out of our eyes
and turn back to the line
where both of us were able
to laugh
to leave
to rest

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Motivações da mudança

Susto muito grande
ou dor intensa demais:
consciência da finitude,
                  do esquecimento
                  e da morte.

Ação e re(clam)ação

Dizem por aí
que chumbo trocado não dói.

Mas como fala ai
quem atirou por primeiro!!!

sexta-feira, janeiro 31, 2014

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Cada guerra

Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...