domingo, setembro 28, 2014

Olhos e coração

"O que os olhos não veem,
o coração não sente."

O que os olhos já viram,
o coração ressente.

Quer curar o coração?
Cuide do olhar.

sábado, setembro 27, 2014

Deixa

Deixa a surpresa ser recíproca.
Deixa a sinceridade superar nossos limites e essa distância.
Deixa que um sonho a mais apareça.
Deixa que nossos desejos se encontrem.
Deixa que nosso primeiro beijo aconteça!

Paraíso, 26-09-2014

Relutância

Anseio teus lábios pela manhã
mas me nego a beijá-los
se pela tarde
queres ir embora

Paraíso, 08-03-2013

Dissonâncias

Dois desejos na contra-mão
uma esperança que liga
a tênue membrana protetora entre dois corpos

Dois universos que se conhecem
                                   se reconhecem
                                   se guardam na lembrança
                                   se recusam
                                   se acusam
                                   se usam

Versos soltos
de declarações que se querem comuns

Sentir o pulsar, um do outro,
temer a perda do próprio eu
por causa de um amor sem limites

Dissonâncias!

Só mesmo estando separados
para se perceberem juntos

Paraíso, 25-08-2009

sexta-feira, setembro 26, 2014

Ao meu amigo recém-saído do Claustro Beneditino

Espero que esteja bem!

É hora de fazer as malas, recolher os frutos de sua experiência e seguir adiante.

Ouvimos de fonte comum que, muitas vezes, o mosteiro pode fazer parte de uma fase na vida de alguém. A experiência do claustro pode ser duradoura, mas também pode ser só uma passagem.

Qual o conteúdo de sua bagagem? O que você irá levar consigo depois desta vida orante e laboriosa? Não há coisas para carregar. Não há peso que sustentar na alça da mala. Há somente você mesmo. Há uma vida que segue. Há um caminho por trilhar.

Mesmo que suas preces mais sinceras pediram, um dia, forças para ficar, para resistir às intempéries e destemperos da vida comunitária, aceite que elas agora peçam forças para sair, para seguir deste ponto em diante.

O claustro também é transitório. Nós também somos transitórios, mas antes de tudo, somos caminhantes!

Bem-vindo ao século! Que sua volta à vida mundana possa ser, acima de tudo, humana.

Seu amigo secular,

O humano que somos

Ofender e sentir-se ofendido
nos distingue dos animais.

Como lidamos com a ofensa
pode nos tornar sublimes,
perecivelmente sublimes.

Minha angústia lhe cura

Cada poema
deveria ter o preço
da terapia
que lhe ofereço

quarta-feira, setembro 24, 2014

As pedras da vida

Uma pedra no fundo do rio
arranha a água
se as águas são poucas

Mas, se o rio cresce
qual pedra?
é somente memória do vencedor

sábado, setembro 20, 2014

Resistência

Há de existir outros problemas,
mas a felicidade é sempre uma opção

João de Barro

Chove chuva
porque João de Barro
está só

Chove e molha a terra
porque João
não quer ser João de Pó

Este passa, os outros passarão

Todo fardo tem seu peso,
mas o jeito de carregar
pode deixá-lo mais leve ou pesado

É preciso deixar
que os problemas passem,
porque outros também virão

O que a gente
não consegue resolver, ainda,
um dia será fumaça e dissipação

sexta-feira, setembro 19, 2014

Tua herança

Tua ausência
não me deixa só
a recordação
que carrego de ti
é minha companheira
é a ilusão mais real
de tua presença

Sei que tudo isto
é fumaça ao vento
mas é a coisa
mais sólida
que me resta
a preencher
meu vazio

Desejo que regresses...
...não sei
talvez este outro
que criei de ti
em tua ausência
já ocupe
teu lugar em mim

quinta-feira, setembro 18, 2014

Trem doido di sicura, sô

Tão falanu que na sicura dessis dia
u sabiá canta forti pedinu chuva
Ce tein qui sê forti, sabiá!

Con-ver(sem)-ter-se

Quando a solidão bater à tua porta,
talvez eu não tenha porta mais,
nem mesmo portas a mais

Tua ausência dissimulada

O ímpeto de algumas paixões
não resiste
à distância
ao silêncio
ao tempo

E, quando os amantes
começam a dissimular a ausência,
pode ser que os mesmos braços
já não se entrelacem mais

sábado, setembro 13, 2014

Minas ainda vai ter mar

Quero uma praia em Minas Gerais.
Quero uma montanha de mar
e se montanha não for válida nesta geografia
quero um monte mesmo, um monte de mar

Quero um mar mais alto que o morro
um mar mais largo que o horizonte
mais aberto que o céu
límpido que o ar

Um mar que me cerque por todos os lados
um mar que limpe minha alma
com a salinidade da cura
com o frescor do aconchego

Nossa capital será Belo Marizonte
nosso horizonte transcenderá de beleza
maresia com queijo e goiabada
maresia com cachaça e uma certeza

Minas ainda vai ter mar

Este nós ausente

Neste silêncio
que nos aparta
se te desejo,
é perdimento,
se me escuto,
tua ausência
povoa minha memória

Cadeias do sentido

Toda forma de expressar-se
é uma forma de prendimento

Paraíso, 08-09-2014

A dúvida

A dúvida é o pior de todos os demônios

Porta fechada
num corredor escuro
acesso espinhoso
passos no ar

Achas que me revelo
imagino conhecer-te
teus desejos me surpreendem
quando meus desejos inverto

Nos entregamos por um momento
sucumbimos ao contato
mas espalhamos pelo vento
as sensações de nosso afeto

Quem mais de nós
se escondeu?
Quem mais de nós
encarnou a personagem?

Fingimos a poesia de um abraço
suportamos mazelas recíprocas
sinceridade à conveniência
escambo de tolerâncias

Quem de nós
foi natural?
Quem de nós
perdeu-se no artifício?

Maquiamos as suspeitas
e nos entregamos estes mapas
as coordenadas são verdadeiras?
o tesouro vale a busca?

A dúvida é o pior dos destinos


Vinhedo, 06-09-2014

quinta-feira, setembro 11, 2014

Platão desvirtuado

Chamamos de realidade
àquilo que nem real é

Idealizamos o virtual de tal forma,
pressupondo que, sim,
ele se refletirá e se realizará na physis

Arquitetamos um ideal
cuja virtus não recairá
nem em nós,
nem nosso mundo

É possível que,
no futuro,
não nos reste distinguir sequer
o que ou a quem reminescer

Tempestade e bonança?

Às vezes um turbilhão de palavras
precede uma vastidão de silêncios


quarta-feira, setembro 03, 2014

terça-feira, setembro 02, 2014

In a battle against silence

I found myself being too noisy
while dealing with the silence
The mirror of fate has made me to face
that it's time to shut up my mind

Now I close my eyes to help me listening
to the reminiscences I've created in my soul
What will last longer after this god's work?
Whatever it may be, it will be a surprise to endure

Life continuously surprises us
every day, after a prize or a lost
What will last longer after this fight?
Someone standing up to his due meaning

We shall fight this together!

Words between us

Don't throw me to the silence
that's where I've lost my balance
take me back to your route
where the journey is so cute

Never wait for asking
never guess what is passing
let the words fall between
we'll have all doubts clean

Let's embrace destiny
while time leads us so happy
'cause after all that's possible
no mistakes should be conceivable 

Fatalidade inefável

O silêncio
pode ser uma forma cruel
de dizer adeus

segunda-feira, setembro 01, 2014

O paradoxo do silêncio dos amantes

Das diversas linguagens do amor, talvez o silêncio seja a mais paradoxal.

Alguns instantes de silêncio semeiam dúvidas, aceleram a imaginação sobretudo se os amantes estão separados fisicamente. Esses silêncios longínquos somente contribuem para aumentar o nível de cobrança, que começa por uma das partes, se torna recíproco e prenuncia a separação.

Alguns instantes de silêncio, mesmo que a distância, podem também ser sinal de quaisquer outras fatalidades, desde imprevistos à insegurança de reencontrar-se. De um extremo a outro, só o diálogo poderá esclarecer as lacunas desta ausência.

Alguns instantes de silêncio podem confirmar a sublimidade do encontro, podem somente significar que as palavras estão exauridas e a eloquência da presença, do contato, do olhar satisfaz qualquer necessidade de sentido.

Alguns instantes de silêncio podem abrir o baú do passado, desenterrar as recordações desencontradas e interditas, muitas vezes irrefletidas, que são o motor da dúvida. A imaginação tem força assustadora no silêncio e na solidão.

Podemos nos silenciar à presença de quem amamos, como confirmação de graça ou desgraça.

Mas quando nos silenciamos na ausência do ser amado, o tempo se encarrega de mudar esta distância, geradora de saudade, em um mar de insegurança que ensurdece o coração.

Treinar-se para o silêncio do amor parece ser uma tarefa tão contraditória como o próprio ato de amar.

Iludir-se na ausência silente do outro é um caminho que se faz só e que desemboca o coração angustiado nas torrentes das hipóteses mais contraditórias que possam haver.

A espera, ante o silêncio obstinado do outro ausente, só se cura também de forma paradoxal: é preciso silenciar-se desde dentro. Não se trata mais de intus legere, mas de intus audire. Silenciar os espasmos da dúvida, da insegurança, da imaginação, para ouvir as pulsações de um coração à espera.

E se este silêncio ajudar a ouvir que o outro não vem, que não se ouvem mais seus passos chegando porta a dentro, este mesmo silêncio trará lucidez para recomeçar um novo amor, seja este a si mesmo ou a outrem.

Tua ausência
me traz desassossego
teu silêncio
arranca de mim a direção

Sigo à tua espera
entre medo e desejo
driblo e sucumbo-me
às rédias da imaginação

Mas se a hora
de tua presença tarda
volto a escutar-me
antes de perder-me cada vez mais

A quem amamos,
quando amamos a alguém?
A quem escutamos,
quando não ouvimos a ninguém?

E se ainda espero
pode ser que não seja mais por teu retorno
espero minha hora
de recomeçar

Cada guerra

Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...