“Um olhar além do ovo”
“Não é o tema que torna bom um quadro,
mas sim a qualidade da pintura.
Procurei dar o melhor de mim, desenvolvendo telas
com fortes contrastes entre linhas e cores.
O equilíbrio entre volumes (pintura escultórica)
e a ênfase dada às cores (valores cromáticos)
foi atingido graças à minha longa trajetória de dedicação à pintura.”
Linah Biasi
mas sim a qualidade da pintura.
Procurei dar o melhor de mim, desenvolvendo telas
com fortes contrastes entre linhas e cores.
O equilíbrio entre volumes (pintura escultórica)
e a ênfase dada às cores (valores cromáticos)
foi atingido graças à minha longa trajetória de dedicação à pintura.”
Linah Biasi
Série: Um olhar além do ovo - Hiper-realismo
O trabalho com o hiper-realismo exige da artista uma pré-disposição extremamente aguçada e versátil de seus sentidos.
Os sentidos devem estar aguçados por dois motivos. Primeiro, porque o trabalho exige uma atenção especial aos menores detalhes da temática desenvolvida na tela. Segundo, a temática, em si, não é um conjunto de um grande cenário, no qual inúmeros motivos se entrelaçam ao redor de um tema em específico. A temática é um pequeno detalhe percebido no grande cenário do dia-a-dia que, muitas vezes, passam desapercebidos aos nossos olhos.
Este trabalho exige, ainda, versatilidade dos sentidos, pois cada temática tratada na tela está intrincada num entorno de grandes e pequenos motivos que estimulam a percepção do observador. A artista passa do trabalho minucioso com um fino pincel, num quadrante reduzido, ao trabalho numa área maior com pincéis e técnicas diferentes.
É neste sentido que a exigência à perspicácia da artista se manifesta. O resultado deste traba-lho denota a grandeza do esforço perceptivo e laborioso da artista e pede aos seus admiradores e observadores, no mínimo, a mesma pré-disposição dos sentidos. Com os olhos voltados a este traba-lho de ‘grande realidade’, hiper-realismo, agudeza e versatilidade de sentidos são ferramentas pri-mordiais.
Os sentidos devem estar aguçados por dois motivos. Primeiro, porque o trabalho exige uma atenção especial aos menores detalhes da temática desenvolvida na tela. Segundo, a temática, em si, não é um conjunto de um grande cenário, no qual inúmeros motivos se entrelaçam ao redor de um tema em específico. A temática é um pequeno detalhe percebido no grande cenário do dia-a-dia que, muitas vezes, passam desapercebidos aos nossos olhos.
Este trabalho exige, ainda, versatilidade dos sentidos, pois cada temática tratada na tela está intrincada num entorno de grandes e pequenos motivos que estimulam a percepção do observador. A artista passa do trabalho minucioso com um fino pincel, num quadrante reduzido, ao trabalho numa área maior com pincéis e técnicas diferentes.
É neste sentido que a exigência à perspicácia da artista se manifesta. O resultado deste traba-lho denota a grandeza do esforço perceptivo e laborioso da artista e pede aos seus admiradores e observadores, no mínimo, a mesma pré-disposição dos sentidos. Com os olhos voltados a este traba-lho de ‘grande realidade’, hiper-realismo, agudeza e versatilidade de sentidos são ferramentas pri-mordiais.
A dinâmica de trabalho
No trabalho hiperrealista de Linah Biasi podemos perceber algumas atitudes fundamentais inerentes a esta maneira de pintar. Fotografar a realidade, registrar o momento, captar um detalhe e manter o diafragma sempre aberto são as quatro atitudes presentes no trabalho da artista que nos permitem entender um pouco mais da sua dinâmica de trabalho.
Fotografar a realidade: o desejo de eternizar que expressa a ânsia criadora.
O grande desafio do hiper-realismo é retratar a realidade sem reduzir o viço de sua naturali-dade. A possibilidade de vencer este desafio acontece quando a artista, na sua pintura, se esmera em fotografar a realidade. Este movimento mostra o desejo da artista de pôr diante do observador uma cena do cotidiano, outrora desapercebida. Esta cena é tratada com uma atenção fotográfica que permite ao observador constatar a novidade de uma realidade tão comum ao seu dia-a-dia. Como é uma prerrogativa da foto eternizar uma cena da realidade, o trabalho hiperrealista retrata uma cena do cotidiano movido pelo desejo de eternizar aquela realidade. Este desejo expressa sua ânsia cria-dora, pois põe em destaque uma determinada fatia da realidade que sempre esteve presente, mas ainda não percebida em seus detalhes. O trato hiperrealista dado a esta fatia da realidade coloca-a em evidência e dá a sensação de que ela está sendo realmente vista pela primeira vez. E o que ve-mos pela primeira vez, é a nova criatura, nascida aos nossos olhos.
Registrar um momento: a arte de documentar história para a memória.
Do processo de fotografar a realidade, desdobra-se um outro movimento. Ao mesmo tempo em que a foto eterniza um momento, ela permite que ele possa ser registrado. O registro é um do-cumento que dá ao momento um caráter histórico. Ele deixa de estar inteiramente ligado à sua tran-sitoriedade e adquire a possibilidade de escapar do esquecimento próprio das coisas reais. O mo-mento documentado poderá sobreviver na memória. Este movimento, dentro do trabalho hiperrea-lista, procura fazer com que a temática retratada mostre-se a partir dela mesma, naquele determina-do momento captado e registrado pela artista.
Captar um detalhe: a atenção às minúcias das partes para lançar-se ao todo.
A atenção aos detalhes é fundamental dentro do hiper-realismo. É somente através da fideli-dade aos detalhes que a artista pode alcançar a plenitude de seu trabalho: aproximar-se da realidade. Os detalhes compõem, minuciosamente, as pequenas partes da temática que permitem que o todo possa ser percebido. Os detalhes atuam no hiper-realismo, de modo especial, para conduzir a per-cepção do observador diretamente para o todo. Apreciar uma obra hiperrealista é contemplar o que de realidade ela oferece. Como os nossos olhos estão corriqueiramente habituados a perceber a rea-lidade em grandes cortes visuais, o desafio do hiper-realismo é retirar desta realidade, ligeiramente percebida, um determinado momento e dar-lhe um trato refinado às minúcias de suas partes para que, de modo detalhado, ele passe a ser percebido como um todo em si, componente fundamental da realidade.
Manter o diafragma sempre aberto: intensificar o presente e exaurir o tempo.
Todo este trabalho de percepção é exigente. A tarefa de fotografar, registrar o momento e perceber as minúcias de seus detalhes não pode acontecer de um instante a outro. Os olhos quase que não podem piscar. Do mesmo modo que na arte de fotografar, o tempo de exposição da película à luz através do diafragma é fundamental, o hiper-realismo pede aos olhos uma abertura de dia-fragma mais intensa. Só assim a luz poderá conduzir as cores da realidade e imprimir na película da percepção o momento observado. Manter o diafragma sempre aberto permite à artista intensificar a percepção diante da realidade presente para tentar percebê-la em sua totalidade. Esta relação intensa da percepção com a realidade não pode prender-se no tempo. O tempo passa. O que está no tempo é transitório. Este olhar intenso leva à exaustão do tempo, pois deseja a realidade presente em sua plenitude.
Fotografar a realidade: o desejo de eternizar que expressa a ânsia criadora.
O grande desafio do hiper-realismo é retratar a realidade sem reduzir o viço de sua naturali-dade. A possibilidade de vencer este desafio acontece quando a artista, na sua pintura, se esmera em fotografar a realidade. Este movimento mostra o desejo da artista de pôr diante do observador uma cena do cotidiano, outrora desapercebida. Esta cena é tratada com uma atenção fotográfica que permite ao observador constatar a novidade de uma realidade tão comum ao seu dia-a-dia. Como é uma prerrogativa da foto eternizar uma cena da realidade, o trabalho hiperrealista retrata uma cena do cotidiano movido pelo desejo de eternizar aquela realidade. Este desejo expressa sua ânsia cria-dora, pois põe em destaque uma determinada fatia da realidade que sempre esteve presente, mas ainda não percebida em seus detalhes. O trato hiperrealista dado a esta fatia da realidade coloca-a em evidência e dá a sensação de que ela está sendo realmente vista pela primeira vez. E o que ve-mos pela primeira vez, é a nova criatura, nascida aos nossos olhos.
Registrar um momento: a arte de documentar história para a memória.
Do processo de fotografar a realidade, desdobra-se um outro movimento. Ao mesmo tempo em que a foto eterniza um momento, ela permite que ele possa ser registrado. O registro é um do-cumento que dá ao momento um caráter histórico. Ele deixa de estar inteiramente ligado à sua tran-sitoriedade e adquire a possibilidade de escapar do esquecimento próprio das coisas reais. O mo-mento documentado poderá sobreviver na memória. Este movimento, dentro do trabalho hiperrea-lista, procura fazer com que a temática retratada mostre-se a partir dela mesma, naquele determina-do momento captado e registrado pela artista.
Captar um detalhe: a atenção às minúcias das partes para lançar-se ao todo.
A atenção aos detalhes é fundamental dentro do hiper-realismo. É somente através da fideli-dade aos detalhes que a artista pode alcançar a plenitude de seu trabalho: aproximar-se da realidade. Os detalhes compõem, minuciosamente, as pequenas partes da temática que permitem que o todo possa ser percebido. Os detalhes atuam no hiper-realismo, de modo especial, para conduzir a per-cepção do observador diretamente para o todo. Apreciar uma obra hiperrealista é contemplar o que de realidade ela oferece. Como os nossos olhos estão corriqueiramente habituados a perceber a rea-lidade em grandes cortes visuais, o desafio do hiper-realismo é retirar desta realidade, ligeiramente percebida, um determinado momento e dar-lhe um trato refinado às minúcias de suas partes para que, de modo detalhado, ele passe a ser percebido como um todo em si, componente fundamental da realidade.
Manter o diafragma sempre aberto: intensificar o presente e exaurir o tempo.
Todo este trabalho de percepção é exigente. A tarefa de fotografar, registrar o momento e perceber as minúcias de seus detalhes não pode acontecer de um instante a outro. Os olhos quase que não podem piscar. Do mesmo modo que na arte de fotografar, o tempo de exposição da película à luz através do diafragma é fundamental, o hiper-realismo pede aos olhos uma abertura de dia-fragma mais intensa. Só assim a luz poderá conduzir as cores da realidade e imprimir na película da percepção o momento observado. Manter o diafragma sempre aberto permite à artista intensificar a percepção diante da realidade presente para tentar percebê-la em sua totalidade. Esta relação intensa da percepção com a realidade não pode prender-se no tempo. O tempo passa. O que está no tempo é transitório. Este olhar intenso leva à exaustão do tempo, pois deseja a realidade presente em sua plenitude.
A assinatura
Série: Um olhar além do ovo - Hiper-realismo
O hiper-realismo de Linah Biasi, na série “Um olhar além do ovo”, apresenta uma marca sutil que nos permite identificar a sua assinatura neste trabalho: o fundo em azul intenso e reflexo na base.
O reflexo no em azul intenso é o paradoxo da escuridão, pois só há reflexo no em azul inten-so quando ele não retém a luz ao absorvê-la. O reflexo no em azul intenso é sinal de que ele foi ca-paz de absorver a luz e oferecer de volta o que recebeu, como se a sua escuridão fosse capaz de re-gurgitar a luz recebida como alimento, que para ele é promessa de continuidade à vida.
Luz e escuridão jogam um com o outro as suas razões de ser. O reflexo no em azul intenso é a possibilidade de diálogo entre luz e escuridão. Ao mesmo tempo em que há uma relação tensa de oposição - luz e escuridão - há uma interrelação entre ambos que lhes permite desvelar mutuamente os mistérios de um ao outro.
A atenção dada ao reflexo em algumas das telas da série “Um olhar além do ovo” contribui com a tarefa de inserir a percepção do observador dentro do espírito da artista em sua empreita de retratar a realidade. O cuidado com o reflexo confere à obra um ar de presença no tempo do obser-vador que permite que os dois travem entre si um diálogo de apresentação e conhecimento.
O reflexo na base nos dá também a ligeira impressão de fluidez. Aqui percebemos um outro paradoxo presente nesta temática hiperrealista. A realidade captada e representada pela artista está ao mesmo tempo presente e também se esvaindo naquilo que ela pode oferecer de si àqueles que a apreciam: o seu reflexo. Se há a tentativa de fidelidade aos detalhes para poder retratar um momen-to o mais possível próximo à realidade, exaurindo o tempo na intensidade do olhar, está a ressalva à transitoriedade da realidade, que se reflete no mundo à sua volta e, ao ofertar a si mesma, se sujeita à mudança.
A luz de suas telas vem da esquerda para a direita, devido à casualidade do espaço no qual as telas foram pintadas. A artista vê nesta casualidade uma analogia à luz que vem do alto, que guia os passos do viandante, os velejos de um navegante.
O reflexo no em azul intenso é o paradoxo da escuridão, pois só há reflexo no em azul inten-so quando ele não retém a luz ao absorvê-la. O reflexo no em azul intenso é sinal de que ele foi ca-paz de absorver a luz e oferecer de volta o que recebeu, como se a sua escuridão fosse capaz de re-gurgitar a luz recebida como alimento, que para ele é promessa de continuidade à vida.
Luz e escuridão jogam um com o outro as suas razões de ser. O reflexo no em azul intenso é a possibilidade de diálogo entre luz e escuridão. Ao mesmo tempo em que há uma relação tensa de oposição - luz e escuridão - há uma interrelação entre ambos que lhes permite desvelar mutuamente os mistérios de um ao outro.
A atenção dada ao reflexo em algumas das telas da série “Um olhar além do ovo” contribui com a tarefa de inserir a percepção do observador dentro do espírito da artista em sua empreita de retratar a realidade. O cuidado com o reflexo confere à obra um ar de presença no tempo do obser-vador que permite que os dois travem entre si um diálogo de apresentação e conhecimento.
O reflexo na base nos dá também a ligeira impressão de fluidez. Aqui percebemos um outro paradoxo presente nesta temática hiperrealista. A realidade captada e representada pela artista está ao mesmo tempo presente e também se esvaindo naquilo que ela pode oferecer de si àqueles que a apreciam: o seu reflexo. Se há a tentativa de fidelidade aos detalhes para poder retratar um momen-to o mais possível próximo à realidade, exaurindo o tempo na intensidade do olhar, está a ressalva à transitoriedade da realidade, que se reflete no mundo à sua volta e, ao ofertar a si mesma, se sujeita à mudança.
A luz de suas telas vem da esquerda para a direita, devido à casualidade do espaço no qual as telas foram pintadas. A artista vê nesta casualidade uma analogia à luz que vem do alto, que guia os passos do viandante, os velejos de um navegante.
Adriano Lima
Escrito na primavera paraisense de 2005
Escrito na primavera paraisense de 2005
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