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Volta para tua casa,
balseiro!
Volta para tua vida.
Volta para a vida
de tua vida.
Há corações à
tua espera!
Volta para os
teus!
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“A Mulher do Balseiro” é um quadro da artista Linah Biasi feito em 1978. Se trata
de um óleo sobre tela, de 40x30cm, que retrata uma mulher grávida, com uma
criança no colo, rodeada por outras crianças.
Esta
é a obra-prima de Linah Biasi. Nela podemos perceber o interesse pelo figurativismo
que, ao longo das andanças temáticas da artista, foi se configurando como sua
especialidade e gosto particular.
Esta
foi uma imagem captada pelo olhar da pintora à beira do Lago de Furnas, onde se
faz a travessia em balsa para Delfinópolis.
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A paisagem
A
encosta do lago sugere boa estação. O campo verde e a brisa que movimenta os
cabelos indicam o frescor do dia. A mãe passeia com os filhos. A mulher beira o
lago, de onde o marido extrai o sustento da família. O lago no oferece ondas
agitadas, mas uma calmaria por onde plaina o labor do marido ausente.
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Um semblante, um
gesto
Os
olhos da mãe repousam sobre as crianças a seus pés, acompanhados de um gesto
delicado da mão ao acariciar o cabelo de um de seus filhos. Há um cuidado desprendido
no olhar que se estende até a ponta de seus dedos para cuidar da vida a seus
pés. Cuidados de suavidade na mão que acaricia a vida. Cuidados de firmeza na
mão que segura a vida.
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Vidas
A
criança em seu colo, apoiada sobre seu ventre fértil, como que partilha o olhar
da mãe e repete o mesmo movimento. Pode ser que seu olhar seja só um olhar de
curiosidade sobre seus irmãos, mas não escapa de mostrar-lhe nem a vida que lhe
precede, nem a vida que lhe seguirá ao irromper do ventre materno.
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Pés no chão
À
exceção da mãe, as crianças vão descalças, vão livremente com os pés na terra,
como quem anda num mundo que sabe ser todo seu.
Uma
delas carrega os sapatos nas mãos, como quem sabe que, à beira do lago, aquele
passeio de espera, não irá durar para sempre. Será preciso vestir os calçados novamente
e pisar o caminho.
A
mãe, contudo, segue calçada, pois a imediatez da vida bate à porta e a mãe,
somente a mãe, sabe que a todo momento tem de pisar forte o chão por causa de
seus filhos.
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O colo
A
menina mais velha traz no colo uma pequena criança. Voltadas para a imensidão
das águas, resta-lhes a segurança da presença da mãe. Embora o colo da menina reproduza
o porto seguro do colo da mãe, a criança pequena agarra-se aos cabelos e
desfia, com esta segurança, as águas do lago.
No
colo, as crianças pequenas dão mostras de contentamento e de recusa a sair
dali. Trazem os pés ligeiramente encurvados e os dedinhos contorcidos para mostrar
que não querem pisar no chão. O colo cala seus medos. O colo cala a separação.
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O encanto do
lago
Embora
não olhem para fora da tela, somente a mãe e sua criança ao colo não têm as
feições voltadas para o lago.
As
demais crianças estão arrebatadas pelos encantos do lago. O movimento das águas
encanta. O mesmo movimento que leva seu pai num barco é também o mesmo movimento
que o traz. É um encanto que abre uma ferida de ausências, quando leva o pai
para longe. É um encanto de cura, quando traz de volta o pai para perto.
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Volta pra nós!
Esta
forma descritiva de olhar é um esforço de passear pela beleza do quadro. Mas
pode ser também uma mentira, narrada com um arranjo de palavras sobrepostas à imagem,
atendendo somente a uma das muitas sugestões que este quadro pode nos fazer.
Há
uma certeza, capturada pelo olhar da artista Linah Biasi, passados estes anos:
não vemos o balseiro. Ele não está em pessoa nesta imagem.
Mas
isto já é o suficiente para nos unir ao desejo desta mulher:
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Volta para tua casa, balseiro!
Volta para tua vida.
Volta para as vidas de tua vida.
Há corações à tua espera!
Volta para nós!
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Adriano Lima
Outono Paraisense 2015