quinta-feira, dezembro 31, 2020

Redundâncias desnegadas: este mesmo ano novo


 

É incrível e inacreditável

tudo o que se esconde debaixo das teclas do teclado.

Restos de uma comida,

manchas de outra bebida

e uns pedaços que eram de mim.

Eu nego!

Eles que façam DNA!

Lamentos de um ano viral,

da estupidez ignorante, burra, 

negacionista, antigotestamentacionista, 

doida para vomitar as pérolas ruminadas de seu (ex)intelecto 

na cabeça de um microfone, 

na cabeça de um jornalista, 

na cabeça de um eleitor, 

na cabeça de um membro do rebanho;

doida para rachar sua violência 

escondida nas ordens dadas 

e nascidas de uma autoridade 

que só busca o próprio bem.

Não, este ano não vai acabar.

A ciência continuará sua busca, dúvida atrás de dúvida.

A indústria farmacêutica... não vou falar dela hoje.

Os bancos seguirão lucrando, em dólar, em euro, centavo por centavo.

O trabalhador contribuinte permanecerá trabalhando e contribuindo, 

sem pausa para metáforas, 

anestesiado por eufemismos, 

na luta frenética e interminável 

por figuras de saúde, educação, segurança, pão e paz.

Os três poderes teimarão nos poderes, 

tampando com a peneira rota 

as brechas do sistema, 

das leis, 

das medidas permanentemente provisórias, 

da aristocracia disfarçada demo(sem)cracia.

Nossas vozes insistirão nos versos, 

nos panelaços, 

nas teses, 

nos enfrentamentos, 

no de(a)bate, 

nas postagens.

As vidas que se foram, sabemos bem, não voltarão.

E como nos fazem falta!

O negro, a mulher, 

as tantas outras orientações sexuais, 

políticas, religiosas, culturais, 

as inúmeras minorias das que, 

vez ou outra, todos fazemos parte, 

vamos insistir gritando para respirar e viver!

Feliz este ano que, todos os dias, 

queremos novo!


São José dos Campos, 31 de dezembro 2020

terça-feira, abril 14, 2020

Em nome da convivência

Em tempos de quarentena,
há muitas restrições.

Umas são compreensíveis,
outras desafiam até o arbítrio do capitão.

Não entendemos bem
quem nos manda ficar em casa.

Ficamos indignados com o controle
do nosso direito de ir e vir.

Mas a regra mais dolorida
é o controle da hora do adeus.

Quem manda em nós
na hora de enterrar nossos mortos?

Nesses tempos, o vírus.
Mas sempre, a convivência.

São José dos Campos, 30 de março de 2020

segunda-feira, março 30, 2020

É difícil ficar em casa?

Muitos de nós não ficaram em casa,
seguem no trabalho, quase normalmente.

Diante da situação deles,
é difícil ficar em casa?

Muitos de nós continuaram nas ruas
por força do trabalho ou ausência de moradia.

Diante da condição deles,
é difícil ficar em casa?

Muitos de nós enfrentam o vírus cara a cara
cuidando daqueles que estão infectados.

Diante da vulnerabilidade deles,
é difícil ficar em casa?

Muitos de nós, ainda que reclusos,
continuam ameaçados de infecção.

Por que alguns teimosos
não querem ficar em casa?

São José dos Campos, 30 de março de 2020

Novo(?) bancovírus-20


A notícia parecia ser positiva:
os bancos vão prorrogar cobranças por sessenta dias.

Inicialmente, o gesto se mostrava solidariedade,
não fossem as condições claramente estabelecidas.

Após esse período de retomada de fôlego,
os correntistas pagariam tudo com juros.

É lógico. É matemático. É econômico. É viral.
É o banco nos ajudando, sem perder vantagens.

Se agora as pessoas deixaram de ganhar,
imagino que em dois meses vão faturar com juros.

Como um vírus, ele se instala em nossa renda
e, sozinho, ele vai se multiplicando.

Tenho medo que o vírus aprenda com eles
essa economia mágica de oferecer favores
e ser o único beneficiado.

São José dos Campos, 30 de março de 2020

domingo, março 29, 2020

Natureza x humanidade

A natureza se recupera,
enquanto a humanidade espera.

A natureza se desregula,
quando a humanidade impõe a gula.

A natureza se reorganiza,
enquanto  a humanidade desviraliza.

A natureza se recompõe,
quando a humanidade não se expõe.

A natureza se des-vela,
enquanto a humanidade vela.

A natureza é somente,
quando a humanidade é semente.

São José dos Campos, 28 de março de 2020

Antivírus


À beira de tanta calamidade,
uma sombra de colaboração.

As ameaças, apregoadas com alarde,
se debatem com uma contra-ação.

Há voluntários em muitas partes,
há grupos de mobilização.

A natureza se recupera,
e nós recuperamos nossa natureza.

A ordem é o isolamento,
a regra é o cuidado.

Enquanto a economia chora,
a humanidade estende as mãos, sem se tocar.

O vírus circula,
o antivírus também.

São José dos Campos, 27 de março de 2020

sexta-feira, março 27, 2020

Isolamento social

Quem tem medo de ser isolado?
Por que tanto alvoroço em ficar dentro de casa?

Mais parece que o lar, desinfetado,
é a chave para abrir outros dilemas.

A quebra de uma rotina
muda a anestesia.

A novidade é dor
para saber como se autodispor.

O mundo parece fugir ao controle
quando temos que buscar outros controles.

Lar e controlar,
isolamento e lamento.

Pandemia e demência,
Pandemência.

São José dos Campos, 27 de março de 2020

Tempos de lepra

Em tempos de quarentenário,
estratégias de diarentena.

Em tempos antigos de lepra,
os doentes eram isolados.

Afastados do convívio social,
eram responsáveis pelo cuidado de si mesmos.

Quando a lepra foi desvendada,
nascendo a hanseníase,
o cuidado medicado
lavou a chaga condenatória.

Não há mais isolamento
por causa dessa enfermidade.

A chave do tratamento
abre as portas da serenidade.

São José dos Campos, 18 de março de 2020

Cada guerra

Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...