quinta-feira, dezembro 29, 2022

Dia do saio


Se é para o bem de todos, que me importa?,
ou para a felicidade geral da nação, não me interessa,
digam ao povo que saio

Saio pelo voto perdido
com a barriga cheia
e a cara lustrada

Saio com aposentadoria gorducha
e o raio que o parta
pra se virar com a lambança que deixei

Vou-me embora com ego magoado
uma canela marcada
e uma cicatriz sigilosa

Deixo para trás o que não me vale
o que não me bajula
e o que não dava para carregar escondido

Diga ao povo que lute
ao gado que chute
os portões do quartel

Tenho férias previstas
não cabem consorte, ativistas
na minha garupa

Digam ao povo que saio
sem ter que fingir desmaio
ao desagarrar-me da faixa

Vou-me embora contrariado
com preces não atendidas
e contas não pagas

De herança, deixo o balaio de g(f)atos
algumas cinzas que escaparam 
e o ranço vingativo da traição


São José dos Campos, 27 de dezembro de 2022

segunda-feira, janeiro 31, 2022

A queixa dos vermes neste 7º dia



Estoura hoje uma rebelião andada em curso

não provaremos dessa carne pútrida

que teus restos agora sem vida

encontrem outra maneira de voltar ao pó

 

Pergunta aos astros o caminho

sonda teus autores o método

implora preces aos seguidores

teoriza outra retórica de destruição

 

O canalha que foste em vida

o pulha que não te negaste ser

o charlatão da escritura peçonhenta

o sofista certificado por inépcia

 

Encontra agora uma receita

descobre outro conselho

de como definhar tuas carnes

na solidão do pós-vida

 

Não te serão úteis teus comparsas

não te acorrerão as gentes tolas

não te farão culto teus crentes

sequer te erguerão uma estátua de sal

 

Não provaremos tua carne chula

abandonada sob uns palmos de terra

só tua mentira acompanhará tua amargura

enquanto colhes teus frutos de guerra

Cada guerra

Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...