Ao anjo que me restava

Quando eu nasci

os anjos pareciam não estar mais

O último que me restava disse

Vai Adriano, ser o que é,

torto assim mesmo

As horas eram rotas

os caminhos descompassados

E no chão sôfrego daquela história

não importava a dor de sola

tinha que pôr o pé no chão

E como os dias se sucedem,

como os fatos se sobrepõem,

viver era a paga

de um destino chamado existência

Mas aos poucos eles se arrependeram,

um e outro iam voltando

Embora tivessem as asas tortas

o que valia mesmo era seu regresso

Aprendi que quase toda oferta

não nasce para ser recusada

As bocas maldizentes do passado

engoliam suas desesperanças banhadas de crença

juntamente com sonhos sem asas

Agora o que adiantava

era dar mão aos de asas tortas

e deixar a vigência do dia

curar as lamúrias mal sonhadas da noite

Nada era devagar

nada passa devagar

Tudo se gastava devagar

Todos se cansavam de vagar

Foi então que descobri

que anjo que é anjo,

anjo mesmo,

nem sempre carece ter asa

Porque desrumados,

do jeito que andamos,

asa não é tudo

pra quem tem pé no chão

E enquanto esta terra que piso

pedir para ser caminhante

não importa primeiro

o que os outros são no caminho

caminhante, eu sou

Juras de promessas (políticas)

Os políticos do nosso país querem manter uma multidão de pobres na ignorância para poder alimentar o sonho de que eles podem um dia vir a ser presidente do Brasil. Mas o problema é que a presidência é cargo para uma pessoa só.

E basta um presidente ignorante. Seus assessores não podem ser ignorantes, senão a vaca vai para o brejo ao invés de seguir dando fartura de leite. Então os demais ignorantes, que perderam o pleito presidencial, voltam à condição de pobres sonhadores, continuando ignorantes.

Se "os pobres são propriedade dos políticos", os ignorantes sãos seus juros e juras de promessas malfeitas.

Arte e linguagem

A arte é uma linguagem
que dispensa neologismos.

Ela, em sua faina demiúrgica,
engendra a cada obra
o sentido que lhe falta no mundo.