domingo, março 29, 2020

Antivírus


À beira de tanta calamidade,
uma sombra de colaboração.

As ameaças, apregoadas com alarde,
se debatem com uma contra-ação.

Há voluntários em muitas partes,
há grupos de mobilização.

A natureza se recupera,
e nós recuperamos nossa natureza.

A ordem é o isolamento,
a regra é o cuidado.

Enquanto a economia chora,
a humanidade estende as mãos, sem se tocar.

O vírus circula,
o antivírus também.

São José dos Campos, 27 de março de 2020

sexta-feira, março 27, 2020

Isolamento social

Quem tem medo de ser isolado?
Por que tanto alvoroço em ficar dentro de casa?

Mais parece que o lar, desinfetado,
é a chave para abrir outros dilemas.

A quebra de uma rotina
muda a anestesia.

A novidade é dor
para saber como se autodispor.

O mundo parece fugir ao controle
quando temos que buscar outros controles.

Lar e controlar,
isolamento e lamento.

Pandemia e demência,
Pandemência.

São José dos Campos, 27 de março de 2020

Tempos de lepra

Em tempos de quarentenário,
estratégias de diarentena.

Em tempos antigos de lepra,
os doentes eram isolados.

Afastados do convívio social,
eram responsáveis pelo cuidado de si mesmos.

Quando a lepra foi desvendada,
nascendo a hanseníase,
o cuidado medicado
lavou a chaga condenatória.

Não há mais isolamento
por causa dessa enfermidade.

A chave do tratamento
abre as portas da serenidade.

São José dos Campos, 18 de março de 2020

segunda-feira, novembro 25, 2019

Da língua I

A língua é um quebra-cabeça
cujas peças têm múltiplos encaixes,
e as combinações, não necessariamente,
formam uma figura nítida.

Meio cansada
meia cansada

Menos feia
menas feia

Poderei estar-me vindo
poder-me-ia estar vindo


São José dos Campos, 21 de novembro de 2019

Da língua II

Tem dias que me faltam todas as línguas.
Sinto falta de sons jamais ouvidos,
sons que dançam na língua tresloucada
entre o céu e o chão da boca.

Quero aprender todas as línguas,
ouvir uma de cada vez,
falá-las,
todas,
e ainda invetar outras mais.


São José dos Campos, 22 de novembro de 2019

quarta-feira, novembro 13, 2019

O burro, a ignorância e a cultura

Há o poder burro,
há o poder do burro
e há o burro no poder.

O poder burro
nasce da ignorância cultivada.

O poder do burro
nasce dos ignorantes que o cultuam.

O burro no poder
nasce da cultura da ignorância.

Qualquer burrice
é problema de cultura.

Qualquer ignorância
é falta de cultura.

Qualquer saída
passa pela cultura.


São José dos Campos, 12 de novembro de 2019

sábado, julho 06, 2019

Nesta Terra de Quebra-em-nós-a-cruz

Todo esse fogo alastrado terá um efeito repetido   Deixará os ricos mais podres os pobres mais puídos   Pagaremos caro no mercado ganharão a...